quinta-feira, 8 de maio de 2008

Falando de mulher


Terça vi um espetáculo chamado Ensaio de mulheres, dos cariocas Atores de Laura, onde seis homens interpretavam personagens femininos. Femininos. Nada de traveca. No entanto, não se pode dizer que não era travestismo, afinal, esta palavra tem a ver com o ato de se transformar, trocar de persona, transformismo, travestismo.
Partir para essa proposta é um caminho fácil para se conseguir as risadas / sucesso para com a platéia. E desde que teatro é Teatro homens se vestem de mulher, vide a época em que mulheres eram terminantemente proibidas de subir num palco.
Por outro lado, entrar no universo feminino pode ser um ato de extrema coragem. Mas falo em entrar de verdade, uma pesquisa profunda, que vá além dos trejeitos, do manejo da saia, e da aventura de subir em um sapato de salto.
Apesar de comédia, pouco ri. Inicialmente talvez por ser um ser de Teatro (ou por pelo lugar-comum na "Terra do Humor"), há coisas que não acho mais tão engraçadas. Mas muito mais por ter visto até nas cenas mais absurdas um pesar nada cômico.
A tal alma feminina, e tantas outras questões que fazem da mulher um gênero cheio de histórias sofridas no passado, estavam ali expostas para quem os quisesse ver. Seria uma opção do espectador se aprofundar em tais fatos, ou se ater apenas ao riso fácil e uma boa diversão? As sensações que me vieram (angústia, solidão, compaixão, pena) foram resultado / objetivo dos que estavam em cena? Ou eu que ando mesmo meio sensível para as questões femininas? Não optei, não decidi em qual caminho iria me aprofundar. Apenas sentei ali e assisti.
Ontem, em outro espetáculo (Los errores del subjuntivo dos mexicanos do La Rendija), um personagem masculino questionava porque as mulheres não são obedientes como manda a Bíblia. Todo mundo riu. Que bom. Isso talvez mostre que, pelo menos, a maioria das pessoas acham isso realmente ultrapassado. (Podemos então ter a esperança de que outros "mandados" bíblicos um dia sejam postos ao ridículo assim, acabando de vez com outros preconceitos?).
Se o espetáculo dos Atores de Laura é bom ou não, se ele poderia ser melhor aqui ou ali, se o cenário é funcional (o que realmente querem dizer com aquelas gaiolas?), se há profundidade, se só querem mesmo o riso fácil, os caminhos que escolheram, etc, etc, etc... Tudo isso, para mim, ficou em segundo plano. Tenho a certeza de que, de tão boas, aquelas mulheres estariam bem representadas mesmo que os atores se apresentassem com a mesma roupa de trabalho de ontem à tarde, roupa de ensaio. Tenho certeza que as mesmas questões me viriam à cabeça, que daria os mesmos poucos risos, e aplaudiria com a mesma intensidade.
Se Teatro é comunhão, esses pensamentos foram resultado de minha comunhão com eles, independente de meu objetivo ao sentar naquela poltrona, e do objetivo deles ao entrar em cena. De qualquer forma o efeito teatral se cumpriu: realizamos um momento único.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que baum que as pecinhas por aih estão legais, e que elas estão fazendo você refletir..
:D

Mas Fabio, uma Dica de Dica: vá em busca do texto ágil. Texto grande assim, num blog, ngm lê.

Bjus bee.