domingo, 24 de janeiro de 2010

Abril

Sinto o abraço do tempo apertar e redesenhar minhas escolhas
Logo eu que queria mudar tudo me vejo cumprindo ciclos
Gostar mais de hoje e gostar disso
Me vejo com seus olhos, tempo
Espero pelas novas folhas
E imagino jeitos novos para as mesmas coisas
Logo eu que queria ficar pra ver encorparem os caules
Lá vou eu
Eu queria ficar...
Pra me ver mais tarde sabendo o que sabem os velhos
Pra ver o tempo e seu lento ácido dissolver o que é concreto
E vejo o tempo em seu claro-escuro
Vejo o tempo em seu movimento
Me marcar a pele fundo
Me impelindo, me fazendo
Logo eu que fazia girar o mundo
Logo eu quem diria, esperar pelos frutos
Conheço o tempo em seus disfarces
Em seus círculos de horas
Se arrastando feito meses
Se o meu amor demora
E vejo bem tudo recomeçar todas as vezes
E vejo o tempo apodrecer e brotar
E seguir sendo sempre ele
Me vejo o tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente
Me vejo o tempo todo começar de novo
E ser e ter tudo pela frente...

Leila Pinheiro
"Abril" (Adriana Calcanhotto)
"Na ponta da língua" (PolyGram, 1998)

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