sábado, 3 de abril de 2010

Como descobri que meu irmão é gay

"Na verdade eu já desconfiava. Mas um belo dia, na época em que nossos pais moravam no interior, e dividíamos o apartamento, saí de casa com meu (na época) namorado e dez minutos depois estava de volta, pois antes de chegar onde iríamos (isso não importa) brigamos e voltei. Contraríadíssima estacionei o carro na garagem do subsolo e peguei o elevador, que parou no térreo para a entrada de um rapaz esbelto e belo que portava uma garrafa que, com minha visão periférica, notei ser de champanhe. Ao constatar que o botão do 11º andar já estava aceso (pois eu o tinha apertado), o belo rapaz sorriu amarelo e tentou disfarçar seu constrangimento olhando para os números que sucediam apagando e acendendo por sobre a porta do elevador. Quando chegamos ao 11º deliciei-me em ver o constrangimento do belo rapaz dobrar de tamanho ao constatar o que eu, claro, já sabia: o prédio tinha um apartamento por andar. Ou seja, estava claro que eu sabia que ele estava ali para visitar meu irmão, que estava crente que iria curtir uma noite orgiástica enquanto eu estivesse fora. Então, fiz a irmã-gente-boa, abri a porta, mandei o belo rapaz entrar e disse que ia chamar meu irmão. Nem deu tempo. Quando me calei ele já vinha pelo corredor desmanchando o sorriso ao me ver. Dei boa noite (até hoje acho que falei isso com certo sorriso de malícia), me tranquei em meu quarto e, cinco minutos depois, ouvi a porta da sala bater. Eles saíram. Hoje estou casada, com dois filhos, três gatos e um periquito e meu irmão, que agora mora em Londres, nunca tocou no assunto comigo."


(A depoente preferiu manter sua identidade, e a do irmão, em sigilo)

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