terça-feira, 27 de outubro de 2009

Diva!

JORGE LAFOND nasceu como Jorge Luís Sousa Lima no Rio de Janeiro, em 1953. Era negro, ator, bailarino, transformista, comediante de teatro, TV e cinema, destaque em carros alegóricos de escolas de samba, coordenador de aeróbica do Domingão do Faustão, torcedor do Flamengo e escreveu um dos livros mais divertidos (e interessantes) de minha biblioteca: Vera Verão, Bofes & Babados.
Sua infância humilde não o impediu de estudar balé e dança afro, e formar-se em Teatro pela Universidade do Rio de Janeiro (Uni–Rio). Trabalhou em muitos cabarés, virando a noite, desde a Praça Mauá até Copacabana. A carreira como bailarino começou no exterior, aos 20 anos, viajando por toda a Europa e Estados Unidos com um grupo folclórico, no qual permaneceu por dez anos. Entrou no corpo de baile do Fantástico, trabalhou no programa Viva o gordo, de Jô Soares, atuou na novela Sassaricando e nos filmes Rio Babilônia, Bar Esperança, Bete Balanço, Leila Diniz e Flores ímpares.
Foi convidado por Renato Aragão para participar de Os Trapalhões. Guardo com saudades, na memória, suas hilárias pequenas intervenções no quadro Quartel Trapalhão:




No entanto, o que viria a tornar Lafond inesquecível foi a criação da personagem Vera Verão para o secular humorístico A praça é nossa, durante dez anos:




Porém, entre tantas glórias perdidas no meio da hipocrisia que reina na mídia, me choco ao descobrir o que matou este ícone da presença negra e gay na televisão: em uma situação atípica, Lafond foi convidado para participar do (esquecível) programa Domingo Legal. Caracterizado de Vera Verão, ele foi retirado do palco após um pedido do padre Marcelo Rossi, que se apresentaria em seguida. Após a "apoteótica" paticipação do reverendo, a produção solicitou insistentemente que Jorge retornasse. Constrangido e amargurado com a situação, ele não voltou. Uma semana depois foi internado em estado grave. Portador de problemas cardíacos, o artista não suportou a humilhação de ser preterido em uma situação que poderia ter sido muito bem evitada. Após outras internações, que diagnosticavam desde hipertensão à depressão, e algumas paradas cardiorespiratórias e problemas renais decorrentes, veio a falecer em São Paulo, no dia 11 de janeiro de 2003.
Sepultado no Cemitério do Irajá, Zona Norte do Rio de Janeiro, seu corpo foi acompanhado por cerca de cinco mil pessoas. A Polícia Militar teve de pedir reforço para conter os ânimos dos fãs que exibiam faixas e cartazes em sua homenagem, além dos aplausos, o grande troféu de um artista.

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